O Uraguai – Basilio da Gama – Sinval Santana

Publicado em 11 de junho de 2016 na categoria

– Basílio da Gama – O Uraguai: poema épico indianista:

Em 1750 uma filha do rei da Espanha casou com um filho do rei de Portugal,

união suficiente para colocar um fim às hostilidades entre os dois países. Antes mesmo da concretização do casamento, a celebração do chamado Tratado de Madri, em janeiro de 1750, assegurava a paz com uma troca que colocaria abaixo a república dos índios: a Espanha ficaria com a Colônia do Santíssimo Sacramento, uma pequena área de terras com uma fortaleza e modesta povoação, e dava em troca os chamados Sete Povos das Missões, no atual Rio Grande do Sul, compreendendo sete cidades, algumas com indústrias primitivas formadas pelos jesuítas e índios.

 

O Uraguai (na língua guarani, Uruguai significa rio dos pássaros pintados), constitui-se como poema épico por tratar o tema da guerra dos Sete Povos das Missões, um fato histórico relevante na História do Brasil do século XVIII, mas sem impacto na História do mundo. O governo do Marquês de Pombal fez acordo com a Coroa espanhola para a troca da fortaleza de Sacramento, próxima a Buenos Aires, pela região das Missões, ocupadas por jesuítas espanhóis. Os padres se negaram a sair e os portugueses fizeram a guerra para expulsá-los. Este é o tema central do poema.

A guerra dos portugueses, comandados pelo general Gomes Freire de Andrade contra os jesuítas, comandados pelo Pe. Balda, é o eixo central do poema. Paralelo ao conflito, o autor narra a trajetória de chefes indígenas, dentre eles Sepé, o primeiro caudilho gaúcho, e a história do amor trágico de Cacambo, chefe indígena, por Lindoia. Este episódio, de intensa força dramática, inspira-se no episódio da morte de Inês de Castro, narrada por Camões em Os Lusíadas. Para ter o controle dos índios, o Pe. Balda conspira contra o chefe indígena Cacambo, esposo de Lindoia, matando-o de forma traiçoeira, para assim casar seu ‘suposto filho’, Baldeta, com a índia e ter o comando. Após acordo com Caitutu, irmão de Lindoia, esta aceita o casamento. Às vésperas das núpcias, Lindoia tem uma visão, que revela como Cacambo morreu. Triste, corre pelo bosque, senta-se sob um cipreste, deixa-se picar por uma serpente, morrendo de amor.

O poema não segue o modelo clássico de Camões: a estrofe em oitava-rima (ABABABCC), os versos são decassílabos heroicos brancos (Em/vós/os/ pa/dres,/co/mo/vós,/va/ssa/los). Não há também a divisão rigorosa em proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo, e o poema divide-se em apenas cinco cantos. Supostamente, a necessidade de agradar o Marquês de Pombal foi o fator que impediu a melhor elaboração do poema. Por outro lado, visto hoje, a quebra do modelo clássico representa inovação, antecipando a  liberdade poética que será estudada no Romantismo.

 

– Atividades para sala:

 

Leia os versos:

 

Fumam ainda nas desertas praias

Lagos de sangue tépidos e impuros

Em que ondeiam cadáveres despidos,

Pasto de corvos. Dura inda nos vales

O rouco som da irada artilharia.

MUSA, honremos o Herói que o povo rude

Subjugou do Uraguai, e no seu sangue

Dos decretos reais lavou a afronta.

Ai tanto custas, ambição de império!

 

O Uraguai – canto I – Basílio da Gama – p. 03 – disponível em www.dominiopublico.gov.br, acessado em 30/12/2010

 

01- Os versos acima abrem o poema O Uraguai. Destaque deles expressões que confirmam que ele narra primeiro o desfecho do conflito:

R: Lagos de sangue tépidos e impuros/Em que ondeiam cadáveres despidos,/Pasto de corvos; que o povo rude/Subjugou do Uraguai.

 

02- No desfecho, o autor critica a guerra. Reconheça a crítica:

R: Ai tanto custas, ambição de império!; assim como Camões em Os Lusíadas, Basílio da Gama critica ao custo da guerra.

 

– Leia os versos:

 

Serás lido, Uraguai. Cubra os meus olhos

Embora um dia a escura noite eterna.

Tu vive e goza a luz serena e pura.

Vai aos bosques de Arcádia: e não receies

Chegar desconhecido àquela areia.

Ali de fresco entre as sombrias murtas

Urna triste a Mireo não todo encerra.

Leva de estranho céu, sobre ela espalha

Co’a peregrina mão bárbaras flores.

E busca o sucessor, que te encaminhe

Ao teu lugar, que há muito que te espera.

 

 O Uraguai – canto V – Basílio da Gama – p. 03 – disponível em www.dominiopublico.gov.br, acessado em 30/12/2010

 

03- Os versos acima encerram o poema épico. Destaque os versos que se referem à paz conquistada:

R: Tu vive e goza a luz serena e pura

 

04- Comente o desejo de ser reconhecido na posteridade, relacionando-o ao gênero épico:

R: o poema épico celebra feitos de um povo, com a finalidade de que esses feitos sejam reconhecidos na posteridade e, consequentemente, o próprio autor e sua obra.

 

05- Comente e justifique a quebra do padrão clássico nos versos:

R: não há estrofação regular, os versos são brancos, a dedicatória vem junto com o desfecho.

 

 – Atividades para casa:

 

– Leia os versos para responder os exercícios a seguir:


 

Não queiras ver se cortam nossas frechas.

Vê que o nome dos reis não nos assusta.

O teu está muito longe; e nós os índios

Não temos outro rei mais do que os padres.

Acabou de falar; e assim responde

O ilustre General: Ó alma grande,

Digna de combater por melhor causa,

Vê que te enganam: risca da memória

Vãs, funestas imagens, que alimentam

Envelhecidos mal fundados ódios.

Por mim te fala o rei: ouve-me, atende,

E verás uma vez nua a verdade.

Fez-vos livres o céu, mas se o ser livres

Era viver errantes e dispersos,

Sem companheiros, sem amigos, sempre

Com as armas na mão em dura guerra,

Ter por justiça a força, e pelos bosques

Viver do acaso, eu julgo que inda fora

Melhor a escravidão que a liberdade.

Mas nem a escravidão, nem a miséria

Quer o benigno rei que o fruto seja

Da sua proteção. Esse absoluto

Império ilimitado, que exercitam

Em vós os padres, como vós, vassalos…

 

 

Basílio da Gama – canto II – Basílio da Gama – p. 11 – disponível em www.dominiopublico.gov.br, acessado em 30/12/2010

 

01- O Arcadismo foi influenciado pelas ideias do iluminista Jean Jacques Rousseau, especificamente a teoria do Bom Selvagem. Destaque dos versos a passagem que ressaltam a pureza do índio e explique por que ele se enquadra no perfil delineado por Rousseau:

R: Fez-vos livres o céu; o índio se enquadra no perfil do Bom Selvagem, por viver longe da civilização em contato com a natureza.

02- O autor considera a influência dos padres sobre os índios positiva ou negativa? Justifique com o texto:

R: Negativa: Esse absoluto/Império ilimitado, que exercitam/Em vós os padres, como vós, vassalos…

 

03- O autor justifica a guerra como benéfica aos índios. Explique:

R: segundo os versos, os portugueses restaurarão a vida natural aos índios, após derrotar os padres.

 

04- O tema dos versos relacionam-se com o gênero épico? Justifique:

R: sim, o gênero épico celebra feitos que tornam um povo grandioso, como as guerras; notar que o general português nos versos, como bom herói, mostra-se benevolente com o inimigo, revelando que além da bravura, tem bom coração.

 

05- O poema constrói propositalmente imagem negativa dos padres. Comente os motivos do autor ao fazer essa imagem:

R: o autor construiu o poema com a finalidade de exaltar os  feitos do Marquês de Pombal, para livrar-se da perseguição por ser aliado dos jesuítas antes.

 

– Vale lembrar:

– Basílio da Gama iniciou a poesia indianista na Literatura Brasileira com o poema épico O Uraguai.

– O poema narra a guerra dos portugueses contra os jesuítas da região dos Sete Povos das Missões no sul do Brasil.

– O poema teve, para o autor, motivação pessoal: por ser seguidor da Companhia de Jesus, o Marquês de Pombal enquadrou-o como inimigo; Basílio da Gama fez o poema exaltando os portugueses e criticando os jesuítas.

– No poema, o autor apresenta os índios como pessoas puras, desvirtuados pelos padres e reconduzidos à vida natural pelos portugueses.

– Apesar de pertencer ao Neoclassicismo, o poema não segue o modelo clássico de Os Lusíadas, de Camões.

– O ponto alto do poema está no episódio narrado no canto IV: a morte de Lindoia, ao saber da morte de seu amado, Cacambo, provocada pelo Pe. Balda.

 

 

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