BERNARDO GUIMARÃES – O GARIMPEIRO
RESUMO E ANÁLISE
PROFESSOR SINVAL SANTANA
Guia de Redação – Curso de Redação Online
Professores: Sinval Santana e Grazi Castro
Específica de Redação – Curso Juris
Professores: Sinval Santana e Zé Laranja
– ROMANCE – CONCEITO
O romance, como gênero discursivo, tem sua origem na Idade Média, quando era composto em versos, em línguas neolatinas, vulgares, chamadas de românicas, daí a origem da palavra romance, romans em provençal. O gênero romance evoluiu das produções em versos para a prosa, o primeiro romance significativo em prosa é Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, o primeiro importante publicado em prosa. O gênero narrativo substituiu o épico no século XIX, durante o Romantismo. O épico, elaborado, sofisticado, atendia ao gosto da Nobreza; o Narrativo, mais popular, atende ao gosto burguês e, principalmente devido a isso, era publicado em suplementos de jornais ou revistas, os chamados Folhetins, para leitura em família. O primeiro romance brasileiro foi O Filho do Pescador, 1843, de Teixeira Sousa, sem impacto; foi Joaquim Manuel de Macedo quem formatou o romance romântico e o folhetim no Brasil com A Moreninha, em 1844.
– ROMANCE ROMÂNTICO
No Romantismo, predominou o texto em prosa, de leitura linear, mais ao gosto burguês, que buscou na Leitura mais uma forma de entretenimento, tornando-a hábito do cotidiano de gosto médio. Os gêneros discursivos em prosa cultivados no Romantismo foram o romance, a novela e o conto. E o mais popular foi o Romance, termo do qual deriva o nome do movimento, Romantismo. O Romance é uma narrativa longa em prosa, com personagens centrais envolvidos em um conflito central, com apresentação, complicação, clímax e desfecho, e personagens e conflitos secundários.
O romance romântico apresenta o esquema básico da narrativa. Introduz o espaço, os personagens centrais e o conflito amoroso. Os personagens do romance romântico são planos, idealizados, assim como o sentimento que os move. Representam ou o arquétipo de comportamento social, o herói/a heroína burgueses, normalmente médico, advogado, jornalista, ou o herói nacional, o representante de um povo, o cavaleiro medieval na Europa, o índio e o sertanejo no Brasil. Os temas desenvolvidos e a linguagem aproximam-se de seu público. Os elementos do romance identificam-se com o universo dos leitores, trazendo a eles o mundo que eles sonham.
O esquema do romance romântico se desenvolveu em um gênero mais populares de todos os tempos: o Romance de Folhetim, as narrativas publicadas em jornais ou revistas da época. Nos folhetins, o conflito se complica por motivos sociais/ morais, chega ao clímax e traz o desfecho aguardado pelo público: feliz, se os personagens seguem o padrão burguês, ou trágico, caso os personagens cometam uma transgressão do padrão burguês de comportamento. Os romances defendem o moralismo burguês: família, casamento e trabalho. Quando ocorre o happy end, normalmente uma peripécia o precede. A peripécia é um recurso usado desde as comédias gregas e consiste em um fato que muda o rumo dos acontecimentos, beneficiando os protagonistas. Se o conflito vivido pelos protagonistas ferir a moral burguesa o final da narrativa é trágico.
– BERNARDO GUIMARÃES – BIOGRAFIA
Bernardo Joaquim da Silva Guimarães, mineiro de Ouro Preto, nascido em 15 de agosto de 1825, formado em Direito em São Paulo, onde foi amigo de Álvares de Azevedo, foi juiz de Direito em Catalão, Goiás, e jornalista no Rio. Iniciou a prosa regionalista em nossa Literatura com o romance O Ermitão de Muquém, 1858, foi um dos mais populares autores românticos e de todos os tempos graças à adaptação de seu romance mais conhecido A Escrava Isaura, para a televisão, como telenovela, primeiro na Globo e mais recente na Record; a versão da Globo é a telenovela brasileira mais vista no mundo, incluindo países como a China e a Rússia. Seu mais importante romance é O Seminarista e sua incursão na Literatura indianista não foi tão bem sucedida, como no regionalismo. Faleceu em Ouro Preto, 10 de março de 1884.
-– BERNARDO GUIMARÃES: OBRA
Cantos da Solidão, 1852, Inspirações da Tarde, 1858 – poesia
Lendas e Romances, 1871 – contos
O Ermitão de Muquém, 1858, O Garimpeiro, 1872, O Seminarista, 1872, O Índio Afonso, 1872, A Escrava Isaura, 1875 – romances
– BERNARDO GUIMARÃES: REGIONALISMO
Bernardo Guimarães foi, não só o criador, como também o mais popular escritor regionalista do Romantismo. Ao contrário dos romances urbanos e dos indianistas, que seguiam o modelo europeu, o romance regionalista é uma criação original do Romantismo brasileiro. O retrato da vida interiorana, rural, já não fazia sentido na Europa do século XIX, urbana e industrializada. Os romances regionalistas apresentam ambientação e tipos humanos mais próximos da realidade nacional. Denomina-se Literatura regionalista os textos em que se identificam traços característicos de uma região: a paisagem, os personagens, a linguagem, a cultura. Cabe aqui uma ressalva, regionalismo é mero termo literário, porque na verdade o que interessa é o tema; e os textos que importam para estudo são os que apresentam tema universal, independente da ambientação urbana ou rural.
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– O GARIMPEIRO – ROMANCE REGIONALISTA
O Garimpeiro é uma das obras que deu origem ao Regionalismo na Literatura Brasileira. Narrado em terceira pessoa, o romance representa a vida sertaneja com hábitos mineiros, costumes interioranos, a vida nas fazendas, o garimpo, as festas religiosas, a cavalhada. O caráter documental é bem acentuado, até porque o autor conheceu a região retratada, o que se confirma na recorrência a expressões regionais, à veracidade do ambiente do garimpo e das fazendas.
Dividido em dezessete capítulos, a obra tem como conflito central o amor do peão Elias e a jovem Lúcia, filha de importante fazendeiro de Patrocínio no Triângulo Mineiro. Em meio à exuberância da paisagem, das atribulações da vida no garimpo, o leitor acompanha a luta do rapaz para se fazer merecedor da mão da moça. Bernardo Guimarães criou o Regionalismo em nossa Literatura em folhetins que arrebataram o público não só de seu tempo, mas de todas as épocas como Escrava Isaura confirma.
Como típico romance romântico, abre com a descrição do cenário: a beleza da paisagem do Triângulo Mineiro, a natureza com riqueza de detalhes.
As regiões que formam os municípios de Araxá, Patrocínio e Bagagem, na província de Minas, encerram paisagens as mais risonhas e encantadoras que se podem imaginar, e quem uma vez tem percorrido esses férteis e pitorescos sertões nunca mais os perde da lembrança.(…)
Tudo é belo e grandioso, é risonho e enlevador por aquelas imensas solidões.
Inúmeras manadas de gado e de éguas, mugindo e relinchando pelos vargedos de viço perenal, bandos de emas e siriemas vagando pelos camegais, alegram a solidão daqueles sertões abençoados.
De três em três, de quatro em quatro léguas lá alveja no fundo do valado, entre moitas de laranjais, coqueiros e bananeiras, a casa do abastado lavrador, que o viandante fatigado saúda sempre com indizível prazer, pois sabe que à sua porta o espera a mais franca e cordial hospitalidade.
Posto que ali ainda não tenham penetrado os benefícios do progresso material, todavia a condição moral e intelectual da população é e sempre foi excelente. Os habitantes dessas regiões são notáveis pela amenidade dos costumes e pela amabilidade do trato.
Nessas paragens os homens são robustos, ativos e inteligentes, as moças são bem feitas, meigas e formosas.
O Garimpeiro – p. 1
Na sequência, o narrador apresenta o Major, fazendeiro de Patrocínio, viúvo, atencioso, mas positivista em suas decisões, suas duas filhas, a menina Júlia e a linda Lúcia, moça de dezoito anos, educada, bonita. Dos escravos destaca-se Joana, responsável pelas coisas das filhas e confidente de Lúcia. Há uma grande expectativa pela proximidade da ida à cidade, para onde se deslocam em momentos festivos, como as Cavalhadas. A empolgação é maior por parte da moça, que espera rever Elias, rapaz que se hospedou na fazenda poucos dias antes.
O narrador delineia o relacionamento dos protagonistas do romance, Elias e Lúcia. Ele, um jovem peão, órfão, inteligente, bonito, com alguma cultura, que veio para Patrocínio participar do torneio de Cavalhadas. Como precisa de montaria, recorre ao Major, fazendeiro, viúvo e pai de duas filhas, a mais velha Lúcia. Elias traz uma carta recomendando-o ao Major e, ao conhecer a filha mais velha, acontece o inevitável em se tratando de um romance romântico, amor à primeira vista. Lúcia, moça prendada, criada na fazenda, não faz feio quando está na cidade, por sua educação e personalidade forte. A relação dos dois estabelece o conflito central da narrativa, toda a tensão que percorre a obra até seu desfecho, vez que o amor é proibido pelo pai da moça, por Elias ser pobre.
O Major, sem suspeitar ainda do sentimento de sua filha e o peão, cede a este o melhor cavalo com o qual o moço será o destaque da Cavalhada. O fazendeiro sempre vinha com a família e os escravos para a cidade por ocasião desses eventos, ansiosamente aguardados por todos. Tinha casa em Patrocínio, onde recebia a sociedade local em saraus, para o prazer dos rapazes que cortejavam Lúcia. Destaca-se um jovem comerciante recém chegado da Corte, estabelecido ali, pretendente da mão da moça, que não se interessa por considerá-lo muito arrogante e pedante, comportamento confirmado quando trata o rapaz desdenha das Cavalhadas, considerando-as um hábito caipira. O autor usa essa passagem para valorizar a vida interiorana em oposição ao mundanismo da Corte.
Elias dedica seu triunfo na Cavalhada a Lúcia e, depois das celebrações do evento, é convidado pelo Major para ir para a fazenda. Lá, durante algum tempo, torna-se o empregado de confiança, encarregado das tarefas que exigiam leitura e ainda é professor de violão das filhas do Major. Elias confessa à moça seu sentimento, e ela confirma que é correspondido. O pai dela, porém, percebe e afasta os dois, primeiro enviando constantemente o rapaz para tarefas fora da fazenda, depois sugerindo-lhe que seu talento era desperdiçado ali na roça. Elias entendeu e, por bilhetes, ele e Lúcia prometeram fidelidade amorosa, com a certeza de que ele se faria merecedor do casamento com ela.
Elias busca a ajuda do velho Simão, mestiço que fora criado do pai, a quem prometera cuidar de Elias. Com suas poucas economias vão para o garimpo de diamantes na esperança do enriquecimento rápido. Em pouco tempo, a ilusão se desfaz, e o rapaz fica desesperado, apesar do otimismo inquebrantável de Simão. Elias recebe proposta de um moço muito bem apessoado, que passava pela região, para gerenciar um garimpo na Bahia. Com a promessa de riqueza fácil e rápida, ele vai sozinho, porque Simão alega a idade e a certeza de que ali encontrará a riqueza pretendida.
Lúcia, sem notícia de seu amado já há quase dois anos, vê sua tristeza aumentar por causa da ambição de seu pai, que trocou a fazenda pela aventura do garimpo e tem todo o patrimônio hipotecado. O Major pressiona a filha para aceitar uma das inúmeras propostas de casamento, mas ela se mantém irredutível. Ela não tem consciência da real situação da família. Quando Leonel, um baiano muito rico, negociante de diamantes, muda-se para Bagagem, logo se encanta com a beleza de Lúcia e pede a mão da moça. Ela não tem a mínima simpatia pelo moço, mas o pai abre o jogo, revelando sua falência e pressiona a filha a aceitar. Contrariada, mas, forçada pela chantagem emocional de seu pai, aceita o pedido de Leonel. No mesmo dia, Elias retorna e muito rico. Elias se hospeda na casa de um amigo, para quem conta como enriqueceu trabalhando para um negociante baiano. Traz cinquenta contos, mas fica decepcionado ao saber que sua amada está de casamento marcado. E logo o rapaz descobre que desgraça pouca é bobagem, todo o seu dinheiro é falso. Extremamente decepcionado, antes de ir embora vai até a casa do Major. Acontece uma festa de sábado da aleluia. Ao ver o noivo de sua Lúcia, fica ainda mais chocado: trata-se de seu ex patrão. Além de pagar com dinheiro falso, irá casar-se com a mulher que ele ama. Ao tentar desmascarar Leonel, é preso.
Abandonado à sorte, ao sair da cadeia, decide sumir de vez da região, passando antes em frente à casa do Major. O inusitado, a polícia prende seu rival. Mais uma vez, tem o sonho de ter a moça como sua esposa. Parte, porém febre intensa o abate. Acolhido à cabana de uma senhora, se recupera. A boa senhora conversando com ele fala dos novos vizinhos. Elias reconhece o Major, as filhas e Joana, agora alforriada a pedido de Lúcia. Elias cria coragem para conversar com Lúcia e novamente têm a chance de viverem seu amor, principalmente agora que ela também é pobre. O rapaz pretende dar a ela a vida que ela merece, de princesa. Para tal objetivo, vai de novo na ilusão da riqueza.
O pouco dinheiro que tinha aplicou em novos garimpos e de novo perdeu tudo. Desiludido, pensa mais uma vez em suicídio. O destino agora lhe sorri com sinceridade. Ao passar por uma cabana muito pobre, ouve uma velha espraguejar contra alguém que está de cama, à beira da morte. Ao se aproximar, espanta a velha desagradável e reconhece no doente o velho Simão, seu protetor. Feliz por encontrá-lo, preocupado com sua saúde, muito emocionado, Elias quer saber como o amigo chegou àquela condição. Estando para morrer, Simão confessa a Elias ter encontrado um garimpo rico em diamantes e para comprovar entrega-lhe uma bolsinha de couro cheia de pedras, dizendo que tudo era para a felicidade do rapaz. Simão revela o local do garimpo e morre.
Após enterrar o amigo, Elias vai procurar Lúcia. A moça encontra-se novamente pressionada pelo pai para aceitar casamento com outro pretendente rico. Relutante e esperando seu amado voltar, a moça não tem mais argumentos para convencer que vai se casar. Elias chega e revela toda a riqueza, pedindo a mão de Lúcia, não sem antes dar uma lição de moral no Major. Aceito o pedido, Elias vai em busca do garimpo. Encontra muitos diamantes e, ao esgotar o local, volta para finalmente celebrar a merecida felicidade. Elias e Lúcia se casam em cerimônia simples. Terminam a história agradecendo a Simão em frente a sua sepultura. Serão felizes para sempre depois de tanto sofrimento que apenas fortaleceu o sentimento que nutriam um pelo outro.
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